Família: um direito humano

Fui católico por boa parte da minha vida e já faz um bom tempo que deixei de ser religioso. Entretanto, tenho que explicar ao meu filho que ele reza diariamente na escola porque alguns acreditam nesse ritual.

Mesmo a escola não se posicionando de forma religiosa, meu filho tem aula de religião. Contudo, ele nunca ouviu falar sobre a filosofia budista, hindu ou xintoísta. Tampouco aprendeu sobre deuses de matrizes africanas, cultuadas no Candomblé, no Xangô ou na Umbanda, por exemplo. Sequer ouviu sobre o Espiritismo, que é um pouco mais “aceito” em nosso país.

O ensinamento é restrito as idéias bíblicas que sequer são passadas de forma filosófica. O coitado é obrigado a (tentar) entender, por exemplo que um homem foi criado do barro e uma mulher da costela desse homem. Que outro homem abriu o mar pra que seu povo passasse em meio às águas. E por ai vai.

A complexa tarefa de ensinar as histórias bíblicas como se fossem fatos para as crianças, justificando tudo apenas com o argumento de que nada é impossível para um deus, dentre milhares de outros cultuados ao redor do mundo, existe desde sempre e nunca foi considerada doutrinação ou desrespeito aos que não comungam com a ideologia cristã.

Há cinco anos, me vejo obrigado a explicar ao meu filho, de forma sempre cuidadosa e respeitosa, sobre esse crédulo, cultuado na escola e fora dela para que ele também respeite a todos. É um processo árduo pois faz muito sentido pra quem acredita, eu sei, mas não é muito palpável pra quem já não comunga da doutrina.

Meu problema, é que, aparentemente, para uma parcela de fieis, terei que explicar também que a possibilidade de liberdade de algumas pessoas viverem em família é uma ameaça a ele, as outras crianças e à “lógica” desse culto. Desculpem. Isso eu não consigo. É desumano.

Uma família com dois pais, duas mães ou de qualquer outro tipo talvez não seja “normal” por culpa de preconceitos que se arrastam por séculos e insistem em reprimir alguns filhos de Deus. Precisamos acolher respeitar e amar ao próximo e entender que as únicas guerras que precisamos travar é contra a intolerância, a desigualdade e a desinformação.